Autor: Marcos Hiller
Nossa vida não cabe em nosso
corpo, apenas. Precisamos postar. Nossos pensamentos são polêmicos? Precisamos
postar. Comemos em bons restaurantes e não basta ser um trivial ato de se
alimentar. Precisamos postar. Os lugares que frequentamos são incríveis?
Precisamos postar. Minhas viagens não cabem apenas em mim. Precisamos postar.
Minha vida é infestada de momentos memoráveis? Precisamos postar. Meu ritmo de
vida é sexy, intenso, frenético, correria. Precisamos postar. Meus filhos são
os mais lindos e a vida deles também é uma linda narrativa. Precisamos postar.
As coisas que vivo, que sinto, que olho, não podem ser limitadas apenas ao meu
sensório. Precisamos postar!
Por que isso acontece hoje em dia? Uma tese muito simples e que, de alguma
forma, responde isso é: o ser humano é vaidoso, sempre foi e sempre ser. E
empresas como Facebook, Snapchat, Instagram e afins apenas entenderam isso de
forma sublime. A câmera frontal de nosso smartphone é o grande responsável por
esse fenômeno das postagens intensas de nosso cotidiano? O Instagram nos deixa
mais vaidosos? Claro que não, cara pálida! O protagonismo nunca está no
“device”, mas nas pessoas. É tudo uma questão de como elas se apropriam, é tudo
uma questão de apropriação social. Nunca a tecnologia, nunca o dispositivo, mas
sempre como a gente se apropria deles. O Google Glass era aparentemente uma boa
ideia, mas não foi apropriado socialmente pelas pessoas, nem comercialmente, e
parece que o projeto foi abandonado.
O fato é que evidenciamos todos os dias em nossas timelines uma grande
quantidade de pessoas narrando suas vidas, descrevendo com riqueza de detalhes
absolutamente tudo que acontece em seus cotidianos. Às vezes, nos deparamos em
nossas timelines com alguns conteúdo que, ao nosso olhar, são tolos, bobos,
como frases feitas, figurinhas dos Ursinhos Carinhosos, coisas
desinteressantes. Mas, para aquelas pessoas que estão postando, trata-se de
algo muito importante. São conteúdos desinteressantes aos nossos olhos, mas
para a outra pessoa aquilo significa algo. A foto do bebê que nasceu, o selfie
no banheiro da escola, o sorriso forçado, tudo tem um significado e uma
importância simbólica para o usuário. Quem disse que os conteúdos que postamos
são os mais interessantes e relevantes? Não sei. Quem disse que a nossa
estratégia de uso de redes sociais é a mais tchananã? Claro que não.
O fato é que cada um de nós
desenvolve (consciente ou inconscientemente) uma estratégia de uso e de
apropriação de redes sociais online. Uns publicam muito, outros publicam pouco.
Outros não publicam nada. Outros nem usam. Uns narram obscenidades e detalhes
sórdidos do dia a dia. Já outros postam quase nada sobre a própria vida. Uns
tiram o dia inteiro para ficar sentando o cacete no governo, outros defendem
perspectivas políticas contrárias. Uns usam isso aqui como um verdadeiro show
do eu, outros usam como muro de lamentações. Outros postam 7.838 fotos da filha
vestida de caipira na festa junina da escolinha e com a convicção de que ela é
a mais linda do Sistema Solar. Uns só dão check-in em restaurantes descolados
como o Ráscal, o Gero, o Melhor Cantina da Cidade. Já na rodoviária do Tietê,
dar check-in? Nem pensar. E check-in no Giraffas? No Habib's, então? Você tá
louco? Nem pensar. Isso não aumenta meu capital social. Já outros dão check-in
no cartório, no hospital, na casinha do cachorro. Uns bancam o
'pseudo-intelectualóide' e escrevem bobagens o dia todo no Facebook, outros
escrevem coisas lúcidas e inteligentes. E tudo isso regido por um algoritmo,
que muda diariamente.
Quem está certo e quem está errado nesse palco virtual? Quem usa bem e que usa
mal o Facebook? São perguntas que, para mim, não nos cabe achar respostas. Não
nos cabe julgar quem usa certo e quem usa errado. Cada um usa como bem
entender. Como disse em uma parágrafo acima, é tudo uma questão de como as
pessoas se apropriam. Penso que devemos simplesmente ficar conectados com
outros usuários com os quais temos interesses em comum e que postam coisas
interessantes, sob nosso ponto de vista.
Retirado do Portal do Administrador, disponível no link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário